quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um Final.

"...E, tendo conhecido a verdade, usado-a como arma e sofrido por ela, ele superou todas as ilusões e difículdades que havia encontrado nesta cidade e finalmente a deixou para trás." E então ele pausou, esperando sua história se aninhar silenciosamente no fundo dos corações e mentes de sua platéia. "Vocês devem estar se perguntando qual foi o motivo desta história. Bem... a muito tempo temos vivido aqui, nesta terra de selvagens, na esperança de ensiná-los, instruí-los... Entretanto, sempre em vão." Sua platéia estava curiosa, era raro Inridith Clod falar qualquer coisa em suas reuniões, visto que sua palavra e sua sabedoria encerrava qualquer debate de maneira incontestável. Mas esta noite ele não só estava falando para todos como havia contado uma história. "E quão ingratos eles são... Desprezando não só nosso saber, como também nossa boa vontade em ensiná-los." O desprezo em sua voz era palpável. Pouco a pouco, sua platéia começava a reconhecer esse desprezo, um sentimento a muito deixado de lado. "Nós desenvolvemos mais e mais formas de passar nosso conhecimento para eles. Nós tentamos simplificar tudo para que seus intelectos e suas vontades inferiores possam ter a mínima chance de compreender algo e para isso, o que nós fazemos? Nós nos esforçamos para nos colocar no lugar deles! Háh! O quão absurdo e degradante não é isso?!" Pouco a pouco, a platéia compreendeu do que seu sênior, não... do que seu Pai estava falando. Como se despertassem de um longo e exaustivo sonho, eles lentamente se deram conta da situação indignante em que se encontravam e, um a um, passaram a sentir vergonha, raiva e desprezo pelos ignorantes e deploráveis selvagens que tão levianamente recusaram suas tentativas de ajuda e feriram seu orgulho.
"Meus filhos, nem tudo está perdido. Esta noite um clamor advindo da mais profunda escuridão do seio da hedionda mãe dos selvagens me alcançou. A Ordem Real foi dada!" A medida que falava, suas costas, curvas por suas horas de leitura, se alinhavam, firmes e poderosas. Seus olhos, cansados pelo passar dos séculos, tornaram a resplandescer em luz. E, pouco a pouco, seu corpo velho, símbolo máximo da sabedoria que jazia com Inridith Clod, tornava a sua antiga forma, de maneira a refletir seu interior luminoso. "Por muito tempo semeamos e cuidamos das sementes, mas esta terra se provou infértil. Nenhum bom fruto nascerá desta cidade!" Tamanha era a luz de Inridith Clod e seus filhos que a mesma não mais era contida por casulos de carne, mas havia consumido completamente a carne de seus ossos e agora seus corpos ostentavam apenas luz. "Meus irmãos também escutaram a Ordem do Rei esta noite, mas seus corações movem-se apenas por vingança. Nós somos melhores que isso! Nossos anos de trabalho chegam ao fim, ajamos com honra mesmo diante de seres tão insignificantes!" Conforme seu discurso chegava ao seu ápice, pela primeira vez em muitos séculos, todos ali estenderam suas asas.
"É chegada a hora da Ceifa! Passemos julgamento justo em todos os selvagens impuros que habitam na cidade abaixo! Como o Homem da história, cortaremos através de ilusões e mentiras, deixaremos a cidade nua diante de nosso olhar! E após fazermos certo de que não haja um só trigo entre eles..." E com uma única voz, um único movimento, como uma única força torrencial, toda luz deixou seu castelo de nuvens em direção a antiga cidade com um grande estrondo. "Todo Joio irá queimar."
E naquela noite luz choveu por toda a cidade. E todos os selvagens se maravilharam e deram graças por aquela beleza e imponência transmitidas pelas luzes. Como eram tolos aqueles selvagens.

Um comentário:

  1. Ficou muito bom!! Mas fiquei com muita pena dos pequenos seres irracionais, ignorantes e selvagens ahuahuahuahau

    o "todo joio irá queimar" era literal ou era uma metafora sobre aquela parabola da biblia?

    ResponderExcluir